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quinta-feira, 28 de março de 2013

Brincadeiras

 

Todo mundo gosta de brincar e jogar. As crianças podem passar o dia inteiro brincando e inventando atividades para se divertir. Mas os adultos também gostam de diversão e, sempre que podem, se juntam para jogar.
Existem muitos jeitos de brincar, mas o objetivo é sempre desfrutar o momento e a companhia dos amigos. Além disso, os jogos ajudam a desenvolver habilidades que serão importantes ao longo da vida. Brincar é também uma maneira de aprender!
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Os índios possuem muitos jogos e brincadeiras. Alguns são bastante conhecidos por vários povos indígenas e outros também são comuns entre os não índios, como a peteca e a perna de pau. Já outros são curiosos e originais. Existem brincadeiras que só as crianças jogam, outras que os adultos jogam junto e assim ensinam as melhores técnicas para quem quiser virar um craque!
Têm brincadeiras só de menino, outras só de menina. Existem algumas que, antes do jogo começar, é preciso construir o brinquedo! Bom, nesse caso, é necessário ir até a mata, achar o material certo, aprender a fazer o brinquedo e, só então, começar a brincar. Mas isso não é um problema, pois construir o brinquedo também faz parte da brincadeira!
Agora conheça brincadeiras e jogos de diferentes povos indígenas!
Jogos e brincadeiras dos Kalapalo
Os Kalapalo vivem no sul do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Conhecem muitos jogos e brincadeiras, tanto individuais quanto coletivas. Algumas brincadeiras são disputas sérias e importantes, outras são brincadeiras de faz de conta; umas são feitas no pátio da aldeia, outras na água e algumas na mata; existem algumas em que participam adultos, outras apenas as crianças e tem também aquelas em que todos jogam juntos.
As crianças costumam brincar todas as manhãs bem cedo. Por volta das oito horas param de brincar e voltam para casa para ajudar no trabalho doméstico. As meninas ajudam suas mães e irmãs mais velhas a preparar o mingau de mandioca e também ajudam a cuidar dos irmãos menores. Os meninos, além de ajudar na fabricação dos artefatos, acompanham seus pais nas pescarias.
No fim de tarde, os meninos costumam jogar futebol e para isso fazem suas próprias bolas e inventam gols. O futebol é jogado no centro da aldeia, mas quando é época do Kwarup (um ritual praticado por vários povos do Parque Indígena do Xingu), o jogo tem que ser em outro lugar, pois é no centro da aldeia que se realiza uma luta chamada Ikindene.
Conheça este e outros jogos e brincadeiras kalapalo!

Ikindene


ikindene
O Ikindene é um jogo muito praticado entre os Kalapalo. Durante a cerimônia do Kwarup, que reúne pessoas de diferentes aldeias, apenas os homens podem lutar, mas durante o ritual Jamugikumalu só participam as mulheres. Este tipo de luta, ou arte marcial, é disputado no pátio central da aldeia entre dois jogadores. Os lutadores se enfeitam com pinturas corporais, cintos, tornozeleiras, colares de caramujos e feixes de lã nos braços e joelhos.
Este jogo é levado muito a sério. Os grandes campeões da luta temem perder e os iniciantes têm medo dos adversários ou de se machucar. O Ikindene desenvolve força, coragem, resistência e concentração.
Durante todo o ano as pessoas da aldeia se preparam para a luta, treinando para as disputas nos rituais. O objetivo do Ikindene é derrubar o oponente no chão; mas um simples toque de mão na perna do adversário acaba com a luta. O vencedor é aquele que consegue tocar a perna do adversário ou que consegue derrubá-lo.
Assista ao vídeo!

Ta


Para jogar o Ta, em primeiro lugar, é preciso fazer o brinquedo. Trata-se de uma roda de palha recoberta com cortiça de embira (uma árvore típica da região do cerrado) ainda verde e que tem o mesmo nome do jogo: ta.
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O objetivo do jogo é acertar o Ta usando um arco e flecha. Para isso se formam dois times, dispostos em fileiras bem distantes entre si. Um jogador assume a função de lançador e atira o brinquedo pelo ar na direção do time adversário.
À medida que o Ta, rodando, entra em contato com o chão e vai passando em grande velocidade pela frente dos jogadores do time adversário, eles tentam, um após outro, acertá-lo com suas flechas.
ta
Se ninguém acertar, os times invertem suas funções. Quando alguém consegue acertar o alvo, seu time segue testando a pontaria. Já o time oponente perde o lançador, que sai temporariamente do jogo, sendo substituído por outro jogador.
Este jogo desenvolve a precisão, a pontaria e a concentração.

Assista ao vídeo!

Heiné Kuputisü


Neste jogo de resistência e equilíbrio, o corredor deve correr num pé só, feito um saci, e não pode trocar de pé. Uma linha é traçada na terra para definir o local da largada e um outro, a uns 100 metros de distância, aponta a meta a ser atingida.
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Se o jogador conseguir ultrapassar a meta é considerado um vencedor, mas se parar antes de chegar na linha final, é sinal de que ainda não tem a capacidade esperada e precisa treinar mais. Apesar de a velocidade não ser o mais importante, todos tentam fazer o caminho o mais rápido que podem, mas no fim, vence quem foi mais longe. O jogo, de que participam homens, adultos e crianças, acontece no centro da aldeia.
No vídeo podemos assistir a um treino do Heiné Kuputisü. Ali o jogo é realizado em duplas e cada participante representa um time, assim os jogadores concorrem par a par.
Veja!

Toloi Kunhügü


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Essa brincadeira acontece na beira de uma lagoa ou de um rio. Quem propõe a brincadeira assume o papel de um gavião e será o “dono" da brincadeira. O "gavião" desenha na areia uma grande árvore, cheia de galhos, e as outras crianças fingem ser passarinhos. Cada "passarinho" escolhe um galho, monta o seu ninho e senta-se lá.
O gavião sai à caça dos passarinhos, que saem dos seus ninhos e se reúnem num local bem próximo à “árvore”, batendo os pés no chão e provocando o gavião com uma graciosa cantoria.
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O gavião avança lentamente na direção dos passarinhos. Já bem perto do grupo, dá um pulo e tenta pegar os passarinhos que começam a correr em todas as direções, fazendo muitas manobras para distrair o gavião. Para descansar, protegem-se nos seus ninhos. O gavião, quando consegue apanhar um dos passarinhos, prende-o no seu refúgio, que fica próximo ao pé da árvore. O último passarinho que conseguir escapar e não ser "caçado" pelo gavião, se transforma no novo “gavião” e "dono" da brincadeira, que recomeça.
O jogo desenvolve diversas habilidades, tais como a concentração, a velocidade de movimento, a agilidade e a percepção de tempo.
Assista a esta brincadeira!

Agradecemos ao SESC São Paulo por liberar o uso de trechos da publicação "Jogos e Brincadeiras do Povo Kalapalo"
Brincadeiras dos Yudja
Os Yudja falam uma língua do tronco Tupi e vivem em 6 aldeias próximas à beira do rio Xingu, no Mato Grosso, e também perto da foz do rio próximo à cidade de Altamira, no Pará.
O texto abaixo foi produzido pelas crianças da aldeia Tuba Tuba junto com a equipe do Programa Xingu/ISA.

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Nós somos as crianças do povo Yudja, da aldeia Tuba Tuba do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Nós meninos aqui da aldeia gostamos de brincar com nosso arco e flecha. Nós começamos a aprender a fazer arquinho com nossos avôs, pais, irmãos mais velhos ou nossos amigos.

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Fazemos nosso arco e flecha com qualquer tipo de material só para brincar e aprender a lançar flecha, o mais difícil é colocar a pena da ponta da flecha para voar bem. Nós acompanhamos nossos pais durante a pescaria, também pescamos sozinhos na beira do rio, mas na caçada nós não vamos, porque é difícil acompanhar. Nós fazemos campeonato de arco e flecha para saber quem é o melhor no lançamento de flecha.
Nós gostamos de fazer aviãozinho, imitando a hélice com uma folha de árvores ou outros materiais.
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Nós meninas gostamos de fazer pulseira, colar de miçanga.
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Em casa, nós ajudamos nossas mães cuidando de nossos irmãos menores, assando peixe, fazendo mingau, até conseguirmos fazer sozinhas.
Nós também vamos na roça e ajudamos a carregar mandioca, batata e outros.
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Ajudamos também a pegar água no rio para cozinhar e lavar. Nós lavamos louça e roupa no rio desde pequenas. Nós também já estamos aprendendo a fazer pintura corporal e começando a fazer cuias e panelinhas de barro.
Nós gostamos de brincar de pega pega no rio, de escorregar no barranco...
De desenhar animal ou pessoa na terra, de brincar de rodar o peão com semente de tucum...
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E de fazer brincadeira de barbante.
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Nós também temos nossas músicas para brincar batendo palma ou então brincar de roda. De noite nós gostamos de brincar no pátio da aldeia cantando as músicas de brincar, ou então as músicas das nossas festas.
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Nós estudamos na escola de nossa aldeia, estudamos em nossa língua e no português e ouvimos as histórias que os mais velhos contam para a gente durante a aula.



Piões dos Gabili do Oiapoque
Os Galibi do Oiapoque migraram da Guiana Francesa para o Brasil nos anos 50. Originários da região do rio Mana, eles passaram a viver na margem direita do rio Oiapoque, no norte do Amapá. A maior parte dos Galibi vive na Guiana Francesa e lá são conhecidos como Kaliña.
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Os meninos galibi, Valdo e Donato, tentam fazer, como o pai os ensinou, o pião da semente da palmeira tucumã, que canta ao girar. Buscam primeiro as melhores sementes, fazem alguns pequenos furos, limpam e raspam toda parte de dentro, deixando-as totalmente ocas. Mas, infelizmente, os piões não giram e muito menos fazem som. Sem sucesso, guardam os piões nos bolsos e esperam a chegada da noite, quando o pai voltará da mata.
Miguel, o pai, analisa o pião dos filhos e anuncia que ensinará novamente, mas precisam esperar até a tarde do próximo dia.
Valdo e Donato moram na aldeia São José, que tem oito casas de madeira, rodeadas de mangueiras, cajueiros, cuias, jenipapo, tucumã, inajá, goiaba, entre outras plantas. Ali moram poucas crianças, que se mostram à vontade com as brincadeiras que aprendem na cidade de Oiapoque. Brincam com petecas e papagaios, mas não deixam de aprender com os mais velhos alguns brinquedos, como, por exemplo, o pião de tucumã.
No horário marcado, Miguel, sem dar explicações, faz o seu pião na frente dos meninos, que o observam e vão fazendo seus piões junto com o pai, sem falar, perguntar ou pedir ajuda.
Deu certo! Todos os piões começam a rodar e zunir quase ao mesmo tempo.
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A algazarra traz de longe o Seu Geraldo, o senhor mais velho da aldeia que não disfarça a alegria de ver seus netos brincando com aquele que era o brinquedo preferido da sua infância.
Reúne os meninos ao seu redor e conta como eram as disputas desse brinquedo na sua infância: juntavam várias crianças, cada um com seu fane (nome desse brinquedo na língua Kaliña), e uma única rede de dormir. Quatro delas seguravam nas pontas da rede, deixando o tecido bem esticado. Todas as outras lançavam ao mesmo tempo seus piões em cima da rede, iniciando um torneio de fane. O objetivo do jogo era deixar o pião mais tempo rodando sem cair, ou sem ser lançado para fora da rede.
Ouvindo as histórias dos mais velhos, as crianças aprendem a fazer o brinquedo, que é passado de geração em geração.
Agradecemos ao Projeto Bira por liberar o uso de trechos da publicação "Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil"
Perna de pau dos Xavante
Crianças, de uma maneira geral, adoram mostrar o quanto são grandes e fortes. Vivem fazendo gestos que aumentam seus tamanhos e forças.
Talvez tenha sido através desse desejo que a perna de pau foi parar nas pernas de tantas crianças pelo mundo.
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Em uma aldeia xavante, no Mato Grosso, quando as crianças têm vontade de andar nas pernas de pau, saem em grupos para o mato levando consigo seus facões. Precisam encontrar o brinquedo que está pronto e escondido em alguma árvore da mata, só aguardando a vinda de alguém. Procuram por horas um tronco longo e reto, e que tenha na ponta uma forquilha (uma divisão no formato da letra Y, onde se apóia o pé) nem muito curva, nem muito aberta. Essa busca seria mais simples se a aldeia não estivesse situada bem no meio do cerrado brasileiro, uma região de árvores baixas com troncos bastante tortos.
Encontrado o tronco com essas características, logo surge o segundo desafio: achar o par para ele. Dessa forma, uma “caçada” às pernas escondidas na mata pode durar uma manhã inteira.
As forquilhas não permitem que os pés fiquem paralelos ao chão, eles ficam retorcidos para dentro, causando um certo desconforto para quem anda sobre elas. Mesmo assim, as crianças xavante gostam de provar que são fortes e resistentes, e o desafio é conferir quem consegue andar a maior distância possível sem cair.
Um dia inteiro se passa sem que as crianças busquem uma nova atividade. Para elas, uma brincadeira por dia é suficiente.
Agradecemos ao Projeto Bira por liberar o uso de partes do livro "Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil"
Arranca mandioca

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